Gabriela Sobreira, artista multidisciplinar brasileira, baseada em Bristol/UK, fala sobre como a música a ajudou a superar algumas barreiras, como a nostalgia familiar, em sua jornada migratória.

por Gabriela Sobreira/tradução Marta Visentin

Quando você migra, as pessoas não te falam sobre como a jornada pode depender das circunstâncias, então se você começa do zero, todo dia pode ser como o primeiro dia em uma escola nova. 

Eu me peguei dizendo para mim mesma “eu escolhi estar aqui, só supere.” Mas então, porque é que eu estou me perdendo? Foi muito difícil para mim aceitar que a migração tinha me mudado.

Se perder acontece por vários motivos. Eu quero dizer que tudo o que você conhecia se foi, você está sozinha, e você não se sente parte da vida de sua família e amigos, não mais. É como se você tivesse começado do zero, é como criar/ter que criar um novo você para se encaixar em um novo espaço.

foto de Dusan Jovic no Unsplash

Então por isso veio à tona o fato de que eu precisava de alguma coisa para manter meus pés no chão, para me lembrar de que eu era, de onde eu vim, e também o porquê de eu estar aqui. Música e arte me permitiram fazer isso. 

Ok, eu vou explicar. Eu vi esse vídeo uma vez, era sobre um projeto musical em um asilo, onde eles usavam música como terapia para pessoas de idade que sofriam com convulsões, Alzheimer e diferentes tipos de doenças. E a música ajudava corpos que não respondiam a voltar à vida.

Então por isso veio à tona o fato de que eu precisava de alguma coisa para manter meus pés no chão, para me lembrar de que eu era, de onde eu vim, e também o porquê de eu estar aqui. Música e arte me permitiram fazer isso. 

Quando eles ouviam uma música que fazia parte de sua memória, seu estado mudava drasticamente, eles começavam a cantar, dançar, falar… eles lembravam quem eram por causa do poder da música. 

Eu sempre amei música e arte, mas eu não sabia que isso poderia me ajudar a me reaproximar de mim mesma. Então eu comecei a tocar músicas que me lembravam da minha família, meus amigos, músicas que trouxeram/trariam memórias da minha infância, mesmo músicas brasileiras que eu não gostava muito ou nunca liguei antes. Isso me aproximou das minhas raízes, e me lembrou de tudo que eu era.

Foto de @chomoda em Unsplash

Isso também me deixou mais confiante para ser eu mesma, porque música e arte me lembraram que a minha cultura é linda, que eu não preciso mudar meu sotaque, minhas ações, roupas, meu corpo nem nada para me encaixar. A aceitação da minha identidade através da arte assumiu um papel enorme em me ajudar a não desistir.  

Então, quando você se mudar para outro país, voluntariamente ou não, é muito importante manter sua cultura viva dentro de você, não se envergonhar de quem você era antes, porque quem você era te tornou resiliente e forte o bastante para passar por tudo isso. 

A aceitação da minha identidade através da arte assumiu um papel enorme em me ajudar a não desistir.  

Seja forte e verdadeira consigo mesma, porque mudar não vale a pena, o que realmente precisa mudar é a integração e a inclusão, o que precisa mudar é a política, mas isso é um outro assunto para outra hora.

Gabriela Sobreira, artista multidisciplinar brasileira, baseada em Bristol/UK, fala sobre como a música a ajudou a superar algumas barreiras, como a nostalgia familiar, em sua jornada migratória.

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